6 de maio de 2009

Kátharsis

Desatinada tomo a palavra. Sim, gostaria de bebê-la. Caso injetável, de preferência em doses cavalares. Se for efervescente, reage com a saliva. Se for sulfúrica, corroe traquéia e esôfago. Serena ou desesperada regurgitar léxicos pode ser uma saída, ou comumente, um beco sem saída.

Tantas são as palavras que fazem reverberar. Então me lembro de algumas que desencadeiam torrentes de arrepio a percorrer cada baliza anatômica. Eis a linguagem da pele que não mente.

Fonemas que hipnotizam, tal como sua voz, uma sinfonia rasgada que provoca frenesi e insônia. Fecho os olhos e logo o eco do seu toque, suavemente, deixa um rastro de perdição e salvação. Assim, sigo um percurso dantesco ao deixar que tuas mãos explorem as trilhas íngremes do meu desejo. Balé que coreografa paixão, exaure e não sacia. Com um olhar, o rastilho é acesso e o apetite se alastra novamente, transbordando as beiras do querer e requerer. Recomeça o ciclo vicioso do pathos, cuja adicção nos é inevitável.

Decifra uma quimera: na penumbra de uma alcova, escrevestes no meu corpo teus gemidos. Estonteante escrita, venenífera ou acidulante, me paralisou para então me solver. Num sussurro você se foi deixando-me em estado líquido. Prazer, saliva, suor, vertigem, lágrimas.

Hélida Xavier

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